segunda-feira, março 06, 2017

















De manhã vestia a capa
Logo, logo ao acordar
Uma capa tão perfeita
Que nem o deixava pensar
E assim sempre viveu
Anos e anos a fio
Fosse noite, fosse dia
Estivesse calor ou frio
Não mudava de rotinas
E nada fazia prever
Que o homem que assim vivia
Assim não quisesse viver

O tempo sempre a correr
E o homem que assim vivia
Assim continuou a viver
Na ilusão de que no seu tempo
Nunca é tempo para morrer

Um dia já velho e cansado
De manha ao acordar
Resolveu não se vestir
E a capa não mais usar
Foi olhado como louco
Tratado como demente…
vestiu-se com um sorriso
Era feliz finalmente.
Assim partiu como um pássaro
Sem saber para onde iria
Mas o que o fazia feliz
Era saber que vivia.



Manuel F. C. Almeida

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