segunda-feira, outubro 16, 2017

















No meu sentir
consciente
Neste acontecer
Do real
Já não há
Magia na pele
Nem prazeres
Que se soltam
Dos dedos.

Resta só a liberdade,
De tingir com o arco iris
O viver todos os dias
Sem que os dias
Sejam dias.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 09, 2017





















Aos meus
Olhos
Tudo é arte
E silêncio.
Segredo
E revelação.
Desejo
E sedução.
Luxúria
E prazer.
Aos meus
Olhos
Tudo pode
Acontecer
Na vertigem
Dos sentidos
E na embriaguez
Do instinto
Racional


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 02, 2017















Neste andamento sonoro
Tingido com cores recriadas
Há um mundo que eu adoro
Feito de imagens passadas
Um mundo por mim construído
Pedra a pedra, passo a passo
De silêncios e ruido
De compasso e contrapasso
De aves e plantas com brilho
E peixes que falam comigo
De caminhos em que o trilho
É feito à medida que o sigo

É pois este o meu segredo
Pintar telas de pureza
Com os sonhos em que o medo
Não rouba o lugar à beleza

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 25, 2017
















E aqui estou, no cume de um trilho
Que me conduz a nada
Com vários carreiros à vista
E todos eles enevoados
E eu procuro encontrar neles
As respostas às perguntas que faço
E grito
E penso
E vou ficando velho, como uma casa
Sem gente, onde o anoitecer
Trás o silêncio dos passos que se afastam
E dos corpos que se vão ausentado,
Perdidos na névoa das minhas interrogações.


Manuel F. C. Almeida












segunda-feira, setembro 18, 2017














Na nora os animais
Perdem toda a liberdade de olhar
E agir.
Os cães ladram a seus pés
E o dono vem de quando em vez
Recordar-lhe que a liberdade
Não está ali
E o animal da nora, caminha sem ver
Fazendo cantar os alcatruzes
Que dão vida à vida do dono.
Resignado espera sem sentido
Que o recolham
E o que o jantar seja servido

É tão bom desejar amestrar os outros.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, setembro 13, 2017






















Já sabes da história do homem
Que cegou porque lhe pediram?
Cegou, dizem que ficou feliz,
Mas não sei se ficou humano.
Foi uma história estranha sabes;
Mas como todas as histórias estranhas
Esta também teve um fim,
Pegou numa arma e deu um tiro
Na cabeça.
Quem levantou o corpo reparou
Nas correntes e cadeados que
Tinha no lugar de cérebro.
E todos tinham nome:
-Medo!
Agora quem o cegou
Chora a sua morte, mas está vivo
E nunca colocou cadeados em si.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 04, 2017














Sentei-me naquela esplanada
Com um livro não mão.
Carregava-o comigo há alguns dias
E não conseguia ler
Qualquer linha.
Teimosamente continuava
Com ele nas mãos
Como se fosse uma extensão de mim.
Pedi um café
E passei os olhos pelas mesas em redor
Uma mulher bonita, sentava-se numa
Das mesas.
Olhei-a descaradamente, sem pudor
Tinha olhos azuis e cabelo curto
As mãos cuidadas, estavam adornadas
Com anéis de várias cores.
Tinha lábios pintados de vermelho

Olhei o livro que me acompanhava
Olhei a mulher inacessível
Paguei o café, acendi um cigarro.
Era tempo de partir.
Só então me dei conta
Que começara a chover


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, agosto 29, 2017





















Ouço o silêncio
Das mãos
Na ausência
De ti.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, agosto 24, 2017















Os silêncios escondem as palavras
Que se gritam no interior da mente,
Que prefere adiar e calar o nada
Como se a vida não existisse.
Os silêncios não mentem,
Tal como o olhar que evita o encontro
E o embaraço cristalino das águas,
No dançar das palavras mudas.
O silêncio invade o espaço
E mantem os momentos em suspenso
Como se brincasse no ar…
Até ao momento em que explode
Em mil pedaços de desespero


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, agosto 14, 2017






















CANTO DO POETA ENQUANTO JOVEM.




Quando os meus olhos tocaram os teus
Naquela margem ajardinada do rio
Foi como se abrissem os céus
E na minha alma o sol sorriu
Aqueço-me desde então no teu regaço
Qual menino perdido no mundo
E quando te tomo, te sinto, te enlaço
É em ti que deixo de ser e me fundo
Trilhemos pois este caminho
Com espinhos e pétalas de roseira
Perdidos na troca de carinho
Iluminados pela luz desta fogueira.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, julho 31, 2017

















Horas houve, em que o bater
Dos corações
Era sintonia e sinfonia
Silencio que se descobria
No pulsar de um olhar.
Agora, qual estrela perdida
Que se apagou com o tempo
Resolve-se a escuridão
Na exclusão da existência
No silencio que canta a
Canção das marés,
No recriar do tempo restante
Numa canção vida
Renovada.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, julho 24, 2017






















Foi por nós que tempo esperou
Sentado à beira da vida
De olhos postos no espaço
Ali, sentado na pedra, descansou
E quando o vento passava
E lhe perguntava:
-que fazes aí parado?
Respondia que esperava
O florir dos corações
Por entre páginas de sonhos
E o explodir de vulcões
Na liberdade do ser
Sem grades e sem prisões.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, julho 17, 2017

















É hora de soltar as velas
De embarcar sem rumo certo,
Sem medo e sem lágrimas
Amordaçadas
É hora de abraçar os ventos
Escutar com atenção o cantar
Das estrelas e sorrir
É hora de não olhar o tempo
Porque o tempo nunca se detém
No bater de um coração
Vivo.

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, julho 04, 2017















Procura-te onde estiveres
Sem receio de te olhares
Ou de cair e soltares
Esmeraldas nos olhos.
Procura-te sem te traíres
Procura ser o que és
Sem que deixes os outros
Tomem o teu mundo.
Por vezes dói, por vezes dóis
Mas por vezes é preciso matar
O passado, sem matar as gentes,
Dar-lhe um beijo de despedida
E desbravar outros mundos
Que sentes serem teus, só teus

E se no caminhar colheres uma rosa
Ou um lírio
Guarda-os no coração, tal como guardas
As lembranças
Mas não te demores porque à tua espera
Estará sempre um caminho por entre
As nuvens…
Um caminho que é só teu,
Desenhado por ti
E que deves seguir
Porque pior do arrependimento de ter agido
É o arrependimento de não ter vivido.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 26, 2017












Sobe as escadas
Acende um cigarro
Maldito catarro
Que o faz tossir
Ainda é domingo
Dia do senhor
Mas faz um calor
De rachar
Vislumbra um local
Para se deitar
É só um jardim
Bonito, cuidado
Merda de cão
Por todo o lado
Nos bancos sentados
Os namorados
Libertam tesão
Não pode ficar
Não quer empatar
O dia feliz
Vai ao castelo
Escolhe um lugar
E fica sentado
Só, a pensar
Que os dias se passam
Sem que a estrelas
Mudem de lugar.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 19, 2017






















Tu aí, desse lado, que lês as palavras
Que alinho e desalinho
Em ritmos meus e por vezes teus também.
Tu aí, que julgas conhecer um pouco
De mim, porque descobres pontes
Nas palavras que escrevo,
Pontes que tocam o que és
Ou o que sentes e vives
Não te iludas com rendilhados.
Toda a vida é um caminho a desbravar
Podemos cruzar o caminho de outros
Mas ninguém se detém num trilho
Que não é o seu
E se o fizer deixa de ser “ser”.
Poe isso lê as minhas palavras,
Recria-as ao teu modo
Dá-lhe uma nova vida
E sorri sempre que pensares conhecer
Alguém apenas pelas palavras que alinha.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 12, 2017



















Do amago do ser vislumbra-se o mundo.
É ali que se escondem os segredos todos,
Até aqueles que se julgam não ser.
Das palavras soltas, como corcéis ao vento,
Descobre-se um pouco da alma,
Que ora vai e ora vem, como a maré
De um oceano encantado, que nunca
Se revela de uma só vez
A transparência é a fronteira
Entre o “EU” e o mundo
Como agarrar o real que os olhos abarcam?
Como soltar a vida na solidão presente?


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 05, 2017













Ainda me recordo como gostava
De chapinhar o pés nas poças de água
Que ficavam nos caminhos e veredas
Depois das chuvas,
Ou de como adorava ver os pardais
A lavarem as penas nessa mesmas
Poças de água.
Era a alegria de criança, que contrasta agora
Com o incomodo que as mesmas (poças) me causam.
Sapatos rotos nas solas, meias molhadas
Pés frios.
O mundo fica sempre mais feio à medida
Que se deixa de ser criança


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, maio 29, 2017





















Um dia a morte virá
E conquistará o meu olhar
Porque a morte é a
Companheira dos vivos
Lado a lado pelo tempo
Sem nunca nos abandonar
Só ela nos conhece
Só ela sabe os nossos cânticos
Até aqueles que guardamos
Em frascos de incenso e mirra
Nos abismos da alma
Vida, morte são uma única
Face da existência
Tudo o resto
São cores de um por de sol
Sempre em espera.



Manuel F. C. Almeida









segunda-feira, maio 22, 2017

















O tempo!
O verbo!
A memória!
Resolves a equação
Antes de morrer?
Ou ficas quieto
À espera que
Os deuses resolvam
As coisas
E te cobrem
O custo
Pela negação
Da vida?

Como desejas fazer?
Viver sem viver?
Morrer a viver?
Ou cavalgar
O tempo
E abraçar a vida
Até ao ultimo
Grito?


Manuel F. C. Almeida